Depois das eleições municipais, pelo menos 13 cidades mineiras sofrem
com problemas graves na área da saúde, como rescisões de contratos,
demissões de médicos e atrasos em pagamentos de funcionários
hospitalares, o que leva a população a enfrentar filas e sofrer com a
precarização do atendimento. “Alguns municípios, como Lagoa da Prata, já
vinham tendo problemas, mas depois da eleição isso piorou de forma
aguda. O cenário está caótico e vai ficar pior até janeiro”, avalia o
presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG),
João Batista Gomes Soares. Ele cita outras 10 cidades do estado que
passam por situação semelhante: João Monlevade, Divinópolis, Sete
Lagoas, Santa Luzia, Nova Serrana, Diamantina, Manhuaçu, Betim, Oliveira
e Campo Belo. Além dessas, Matozinhos e Glaucilândia registram as
mesmas dificuldades. A entidade se une à Associação Médica de Minas
Gerais e ao sindicato da categoria no estado (Sinmed-MG) para deflagrar
uma ação conjunta para alertar a população e defender os profissionais.
“Uma responsabilidade das prefeituras está sendo injustamente
transferida para os médicos, isso é grave. Vai morrer gente, com certeza
vai, mas o cidadão não pode ser obrigado a trabalhar sem receber. Isso é
trabalho escravo”, afirma João Batista.
Na quinta-feira o Estado de Minas publicou reportagem denunciando
prefeitos derrotados nas eleições municipais que cortaram serviços
públicos essenciais, como coleta de lixo e atendimento hospitalar,
prejudicando moradores de suas cidades. Santa Luzia, Matozinhos,
Engenheiro Navarro, Glaucilândia, Bonito de Minas, Januária e Araçuaí
amargam dificuldades com a redução de despesas de suas prefeituras em
fim de mandato.
Vice-presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), o prefeito de
Passa Quatro, Sul de Minas, Acácio Mendes (PTB), admite que alguns
chefes de Executivo municipal podem estar tomando algumas medidas por
má-fé, mas ele pondera: “Não posso afirmar se estão fazendo isso a
título de necessidade ou de retaliação, mas as prefeituras estão em
crise para cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal”. Ele afirma que os
repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) estão sendo
prejudicados com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI) e assegura que a AMM está negociando medidas com o governo federal
que ajudem as prefeituras mineiras a fechar suas contas.
Presidente do Sinmed-MG, Cristiano da Matta Machado avalia que o período
de fim de mandatos é crítico para a categoria médica: “Em época
pós-eleição aumentam sobremaneira os problemas na saúde pública. Por um
lado, o prefeito reeleito fez muitos gastos e tem que fechar a conta,
por outro o que perdeu fica com raiva e quer se vingar”. Ele informa que
muitos processos têm sido movidos contra os médicos e cita um caso de
Lagoa da Prata: “Lá há uma sentença para que os profissionais trabalhem
sem receber. Vamos procurar o Ministério Público e o Tribunal de Justiça
de Minas Gerais. Não é possível que as coisas fiquem assim”.
O presidente da Associação Médica, Lincoln Lopes Ferreira, acredita que a
situação evidencia grave desconsideração com a população. “A nossa
posição é de protesto. Independentemente de viés político partidário, os
prefeitos foram eleitos para completar seus mandatos”, diz.
Demissão por carta
Em Glaucilândia, no Norte de Minas, o médico Jorge Alberto Fernandes foi
dispensado por carta pela prefeitura da cidade, que tem pouco mais de 3
mil habitantes. Jorge trabalhava no posto de saúde e no hospital
clínico havia cerca de 14 meses. A carta, segundo ele, enviada logo após
as eleições, afirmava que por causa do corte de custos ele seria
dispensado. Um enfermeiro também foi demitido. “Com a minha saída ficou
apenas um clínico para atender toda a demanda da cidade”, diz o médico.
Ele afirma que o caso dele não é isolado. “Aqui na região, depois das
eleições, os prefeitos dispensaram médicos em muitas cidades. Fiquei
sabendo por meio de amigos meus que trabalham nos postos e hospitais da
região.”
Além dos médicos, outros profissionais da área da saúde como psicólogos,
nutricionistas e fisioterapeutas estão sendo dispensados. Marcelo
Ferrante Maia (PSDB), que administra Glaucilândia desde 2004, não foi
localizado para comentar a situação. A reportagem deixou recado na
prefeitura, mas ninguém retornou o pedido de entrevista. A reportagem
também tentou entrar em contato com as prefeituras de Nova Serrana,
Divinópolis, Sete Lagoas, Diamantina, Santa Luzia e João Monlevade, mas
não conseguiu.
Santa Luzia, Betim, Diamantina, Nova Serrana, Matozinhos, Araçuaí,
Engenheiro Navarro e Januária não reelegeram seus prefeitos. De todas as
cidades citadas, apenas em Divinópolis, na Região Centro-Oeste, o
prefeito Vladimir Azevedo (PSDB) venceu a eleição e vai governar por
mais quatro anos. Em Sete Lagoas, Manhuaçu, Oliveira, Campo Belo, Lagoa
da Prata, Monlevade e Glaucilândia o candidato apoiado pelo partido do
prefeito não se elegeu.
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