sábado, 24 de maio de 2014

O papa e as mulheres dos padres

No romance “O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queirós (1845-1900), um jovem pároco e uma fiel iniciam um romance clandestino, que fatalmente acaba em tragédia. Mais do que ficção, a história, que chocou a sociedade portuguesa quando foi publicada, em 1875, reflete uma realidade que continua atual. Até hoje, sacerdotes da Igreja Católica ingressam em uma vida dupla ao burlar uma das mais controversas regras da vida episcopal: o celibato obrigatório. Na semana passada, um grupo composto por 26 mulheres italianas enviou uma tocante carta ao papa Francisco em que se declaravam apaixonadas por padres ou bispos e pediam que o pontífice revisse essa tradição. “Nós amamos esses homens e eles nos amam também. E, apesar de tentarmos de todas as maneiras renunciar a esse sentimento, não conseguimos desfazer um vínculo tão sólido e bonito”, dizem na mensagem. “As únicas alternativas são o abandono do sacerdócio ou a manutenção da relação em segredo.”
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TRADIÇÃO
O pontífice já declarou ser contra uma alteração na regra do celibato
No início do Cristianismo, apóstolos e pastores casavam-se normalmente e constituíam famílias. O primeiro papa da história, Pedro, era um homem casado. Apenas no século XI a obrigação de manter-se virgem ou renunciar à própria sexualidade foi instaurada e, mesmo assim, essa decisão sempre gerou resistências. A Igreja Ortodoxa, no Oriente, incentiva a ordenação de um clero casado, e o mesmo acontece em outras religiões cristãs, como o judaísmo e o protestantismo. “Não há nenhuma razão teológica que inviabilize o casamento de sacerdotes ou freiras”, diz Regina Jurkewicz, doutora em sociologia da religião e integrante do grupo Católicas pelo Direito de Decidir. “A Igreja pune de forma mais severa o padre que decide se casar, expulsando-o do sacerdócio, do que o padre que comete uma violência sexual ou pedofilia. Nesse caso, esse padre é apenas afastado do cargo temporariamente e vai para a reclusão pensar no que fez”, diz. 

Portal Terra