segunda-feira, 4 de junho de 2012

Mortes por câncer em Minas aumentaram 57,6%




Assim como o câncer, a deficiência no atendimento oncológico é vista por especialistas como um problema crônico e difícil de ser tratado. Em Minas, onde as mortes causadas pela doença cresceram 57,6% entre 2000 e 2010, ultrapassando a média nacional (48,5%), profissionais afirmam que trabalham com dificuldade para atender a demanda cada vez mais crescente. A previsão é de que mais 50 mil pessoas desenvolvam algum tipo de câncer no estado somente neste ano, aumento que não ocorre na mesma proporção dos investimentos em infraestrutura e formação de profissionais para a especialidade.
Atualmente, Minas conta com 31 hospitais habilitados para tratamento da doença, número que já é considerado insuficiente pela Secretaria de Estado de Saúde (SES). No âmbito municipal, o aumento da expectativa de vida e da população idosa tem levado a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) a debater a ampliação do serviço. Na lista de críticas feitas por quem atua diretamente com os pacientes estão a precariedade na atenção primária, a falta de hospitais especializados e de equipamentos e distorções na remuneração paga pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“Os equipamentos modernizaram muito e o SUS não cobre, ou cobre parcialmente, a tecnologia mais moderna. Os protocolos de drogas também estão completamente defasados. Temos de 20 a 30 novas medicações aprovadas pela Vigilância Sanitária, sendo comercializadas no país e não cobertas pelo sistema”, critica o chefe do serviço de oncologia do Hospital das Clínicas, André Murad. Para ele, o número de centros de assistência de alta complexidade em oncologia (Cacon) também é insuficiente. “Seriam necessários pelo menos mais três”, afirma.
Já a promotora de Justiça da Promotoria de Defesa da Saúde de Belo Horizonte, Josely Ramos Pontes, afirma que o problema maior está no déficit nas cirurgias e é um reflexo da distorção na remuneração paga pelo SUS. “Entre os recursos destinados ao câncer, a maior parte vai para a quimioterapia. Não é dividido de forma justa. E sabemos que o câncer que é operado tem um prognóstico muito melhor do que aquele que recebe outros tratamentos. Está na hora de o Ministério da Saúde rever isso”, afirma. O ministério, responsável pelo repasse de recursos, afirma que compete ao estado informar caso haja insuficiência na remuneração, o que não ocorreu até agora. Segundo o MS, no período de 2010 a 2011 foi repassado ao estado o valor de R$ 440,7 milhões para tratamentos oncológicos.
O oncologista José Miguel Martini, presidente do Hospital Mário Penna, concorda que o problema está na divisão desses recursos. “A baixa remuneração do procedimento cirúrgico é a principal causa do gargalo nas cirurgias oncológicas. Quem quer investir em tratamento de câncer sabendo que o SUS é deficitário? Ninguém. Só nas cirurgias, temos um prejuízo mensal de R$300 mil. Se o paciente precisar de um CTI, por exemplo, ele terá um custo de R$ 1.300. Mas o SUS repassa apenas R$ 300 para esse paciente”, explica Martini.
Na avaliação do diretor do serviço de Oncologia da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, Eduardo Nascimento, a má gestão do serviço oncológico em Minas tem feito do paciente uma grande vítima. “O acesso ao serviço é difícil. Os problemas começam na atenção básica, com a dificuldade de marcar uma mamografia, tomografia, ressonância ou uma biópsia. Depois, os pacientes enfrentam uma longa fila de espera para a quimioterapia e a radioterapia, que pode chegar a 40 dias”. Para os que moram no interior, a situação é ainda mais complicada. “De forma geral, os pacientes são pobres, muitos deles estão debilitados e precisam enfrentar horas em uma ambulância para chegar a um centro oncológico”, conta.

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