quarta-feira, 31 de julho de 2013

A bem-vinda mudança de tom do papa Francisco




De homílias até confidências, o papa Francisco vai imprimindo sua marca. Esse pontífice argentino, que está vivendo uma coabitação inédita com seu antecessor, Bento 16, não pretende revolucionar a doutrina da Igreja católica. Mas ele quer deixar mais "positiva" sua mensagem, passar a imagem de uma Igreja que não surja cada vez mais com excomunhões, proibições e arbitrariedades, mas que acolha, escute e respeite os indivíduos em sua diversidade. É esse o sentido das declarações que o papa fez sobre os homossexuais, na segunda-feira (29), dentro do avião que o levava embora do Brasil.
Durante uma conversa de muitas interrupções com os 70 jornalistas credenciados a bordo, Francisco respondeu a uma pergunta sobre o "lobby gay". "O problema não é ter essa tendência", enfatizou o soberano pontífice, "e sim fazer lobby. É o problema mais grave, a meu ver. Se uma pessoa é gay e procura o Senhor com boa vontade, quem sou eu para julgá-la?" Brincando com o fato de que ele "ainda não viu ninguém no Vaticano com 'gay' escrito na carteira de identidade", o papa lembrou que "o catecismo da Igreja católica diz muito bem que não devemos marginalizar essas pessoas e que elas devem ser integradas à sociedade".
À primeira vista, não há nada de fundamentalmente novo nas declarações do bispo de Roma. Sua posição se alinha à "pastoral sobre as pessoas homossexuais" apresentada no dia 1º de outubro de 1986 pela congregação para a doutrina da fé, sob o comando de João Paulo 2º e do futuro Bento 16. "É preciso lamentar firmemente", afirmava esse texto, "o fato de que os homossexuais tenham sido e ainda sejam alvo de expressões malévolas e de gestos violentos. Reações do tipo, onde quer que apareçam, merecem a condenação dos pastores da Igreja." "A própria dignidade de qualquer pessoa deve sempre ser respeitada nas palavras, nas ações e nas legislações", dizia o texto.
No entanto, a pastoral de 1986 ordenava que os gays "levassem uma vida casta", condenando "o caráter imoral da atividade homossexual". "Ainda que ela em si não seja um pecado", ela proclamava, "a inclinação particular da pessoa homossexual constitui uma tendência, mais ou menos forte, para um comportamento intrinsecamente mau do ponto de vista moral."
Desse catecismo, Francisco manteve essencialmente a ideia de acolhimento e de integração. Embora tenha lembrado a oposição da Igreja ao casamento gay, ao tomar o cuidado de não enfatizá-lo, ele não fez nenhuma condenação moral aos homossexuais, distinguindo-se de Bento 16, que, em 2005, fechou as portas dos seminários aos homens que apresentassem "tendências homossexuais".

Ainda que não haja uma ruptura doutrinal, existe uma inflexão, uma mudança de tom, saudada por diversas associações gays americanas. Da mesma maneira, o papa pode ter fechado as portas para a ordenação de mulheres, mas ele manifestou um desejo de que elas tenham um papel mais ativo na Igreja. E ele deu início a uma abertura em relação ao casamento de divorciados. Quatro meses depois do início de seu pontificado, Francisco sugere uma renovação. Pode-se desejar que ele vá mais longe, mas é um bom presságio.

Tradutor: Lana Lim

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